A maior premiação do cinema mundial acontece no próximo dia 9 de fevereiro, e naturalmente, tem sido um dos assuntos mais comentados em todas as mídias. Aqui no Brasil a jornalista e cineasta Petra Costa conquistou os holofotes após ter a sua obra “Democracia em vertigem” indicada como melhor documentário. É a primeira vez na história da premiação que o Brasil será representado por esse gênero. 

Além desse ineditismo, a indicação brasileira chama a atenção por mais uma característica: a obra não precisou ser exibida nas telas do cinema. O filme foi produzido exclusivamente para a Netflix, rede de streaming que vem crescendo absurdamente no último ano, inclusive nas indicações ao Oscar. Ano passado foram 15, este ano o número quase duplicou, no total a plataforma recebeu 24 indicações em diversas categorias. Mas para entender melhor o porquê da indicação de Democracia em vertigem fazer tanto sentido, é preciso conhecer mais sobre o gênero documentário, e suas características particulares.

Retrato da realidade

Após a divulgação da indicação brasileira, muitas críticas e até memes surgiram classificando o material como ficção e fantasia. Entretanto, um documentário se caracteriza pela exploração de fatos reais, mesmo quando abordados por uma visão particular (como neste caso), mas ainda assim, não é o suficiente para classificá-lo como ficção. Um material desse gênero tem o compromisso de documentar um acontecimento, fato ou evento com um olhar minucioso, e muitas vezes diferente do que já foi apresentado. Afinal, se demonstrasse os fatos de uma forma semelhante a como já foram apresentados, não geraria interesse. 

Segundo o Diretor da Forasteiro Produções, Ernesto Andreghetto, a produção de documentários é uma das formas mais complexas de fazer cinema. “Requer muita paciência, pesquisa e estudo. Muitas vezes o cineasta quer documentar uma jornada ou história, e os acontecimentos tomam rumos inesperados. É preciso estar pronto para construir recortes e estabelecer a narrativa”, explica. 

Além disso, um documentário muitas vezes nasce da hipótese do cineasta. Com a Petra Costa não foi diferente quando saiu às ruas em 2016, e percebendo a polarização e os caminhos extremos e divergentes que as pessoas tomavam, se viu na necessidade de retratar o momento a partir do seu olhar e das suas vivências. No dia que ela tomou a decisão de começar a gravar a sucessão de eventos, talvez não tivesse certeza que a presidente Dilma iria sofrer o Impeachment, mas tinha quase uma convicção de que a democracia brasileira estava fragilizada. Este é o ponto forte da sua obra. 

Ernesto também aponta questões importantes para que um material como esse possa ser produzido com qualidade. “São necessárias horas, dias e até meses de captação de imagens, para depois estudá-las e selecionar quais irão compor a narrativa. E quando essas gravações acontecem, o documentarista precisa ter cuidado para manter-se despercebido e não se tornar um interventor do fato. O objetivo é ser naturalmente um receptor da informação”, descreve. 

A façanha de Petra

Cineasta Petra Costa. Foto: Diego Bressani

A cineasta mineira já tem boa fama na produção de documentários, como o premiado Elena (2012), baseado na vida da atriz Elena Andrade, irmã mais velha de Petra. A cineasta teve uma sensibilidade sagaz de retratar um acontecimento trágico como o suicídio da irmã que tanto amava, de forma poética e cinematográfica. 

Em Democracia em vertigem Petra se sobressai ainda mais retratando um dos fatos que muda a história política do Brasil, com imagens e declarações jamais vistas. Para Ernesto Andreghetto, Diretor da Forasteiro, a obra é primorosa. “É de uma disciplina técnica e decupagem invejável. Ao meu ver a Petra teve a sensibilidade de expor sua experiência pessoal dentro de um jogo político, e fez isso sem influências externas”, opina. 

Dentre as questões que o elegeram como indicado ao Oscar, Ernesto classifica a relevância do tema como a mais importante delas. “Estamos falando de um processo de Impeachment e da prisão de um ex presidente. Ao meu ver, esses acontecimentos de grande importância histórica pesaram para conquistar a indicação. Tivemos outro grande documentário do Marcelo Gomes, Estou me guardando para quando o carnaval chegar, que não tem contexto político, mas é genialmente semelhante ao de Petra. Porém, não envolve o público da mesma forma”, complementa. 

O Filme de Petra concorre contra outros quatro. Confira a lista abaixo: 

  • American Factory (USA)

O filme dirigido por Steven Bognar e Julia Reichert narra a alta recepção da tecnologia chinesa nos Estados Unidos. 

  • The Cave (Síria)

A obra dirigida pelo Sírio Feras Fayyad retrata o dia a dia de um hospital que recebe feridos nos confrontos e ataques que o país sofre da Rússia. 

  • For Sama (Arábia Saudita)

Produzido por Waad Al-Khateab, For Sama é um filme árabe que segue a história de al-Kateab, uma mãe que encara a revolta em Aleppo durante a Guerra Civil Síria.

  • Honeyland (Macedônia)

O documentário exibe a história da última criadora de abelhas da Europa e suas tentativas de salvar os insetos para retomar o equilíbrio natural do planeta. A película também foi indicada como melhor filme estrangeiro. 

Levando ou não a estatueta, Petra já pode considerar-se vencedora pela indicação e por elevar a qualidade e o reconhecimento da produção documental brasileira.

Gostou do texto? Tem mais no nosso blog.

Quer produzir algum projeto em vídeo? contate-nos!

Foto Capa: Divulgação Netflix

Sua opinião é importante