O anúncio do Oscar de melhor filme para a obra “Parasita”, do diretor Bong Joon-Ho, pode ter surpreendido muita gente, mas não quem já vem acompanhando essa crescente do cinema sul-coreano. Nos últimos anos a indústria audiovisual do país tem sido premiada em grandes festivais de cinema pelo mundo. Obras como Oldboy (2003) de Park Chan Wook e O Hospedeiro (2007) de Bong Joon-Ho, mesmo diretor de Parasita, já davam pistas de até onde a Coréia do Sul poderia chegar.
Mas claro, é sempre possível ir além. No Oscar, a premiação de melhor filme estrangeiro já era mais que esperada. Porém, eles foram além e entraram na história sendo o primeiro filme em outro idioma a conquistar a estatueta mais importante da academia, rompendo inclusive a barreira de filmes legendados que sempre foi imposta pelo público americano. Nos Estados Unidos a película despontou como a maior bilheteria de filme estrangeiro do ano. Já no Brasil, alcançou recentemente a terceira maior bilheteria, ficando atrás de Sonic e Aves de Rapina.
Para você que incrivelmente pode ainda não ter assistido o filme, deve surgir a pergunta: o que tanto impressiona no cinema sul-coreano? Com a ajuda do nosso especialista em cinema e idealizador da Forasteiro Produções, Ernesto Andreghetto, pontuaremos algumas características.
Ousadia e pluralidade
Se quando falamos de cinema brasileiro lembramos automaticamente de comédia e drama, pode esquecer isso na Coréia do Sul. Complexo e diversificado são alguns dos adjetivos que descrevem o audiovisual sul-coreano, que dentre suas facetas tem a ousadia de abordar temas polêmicos que muitas vezes são evitados em outros países. Segundo o Diretor Ernesto Andreghetto, as produções promovem uma quebra de paradigmas. “Eles retratam temas polêmicos e chocantes em suas produções, criando situações em seus roteiros que podem ser muito desconfortáveis e tem uma proximidade com a violência explícita apurada”, explica.
Para o especialista, os filmes produzidos na Coréia do Sul trazem um tipo de cinema visceral, onde o que é bruto ou incomoda não acontece fora das telas, mas em plano aberto, sendo exibido para todos os telespectadores. Temáticas como o incesto, profanação, estupro e tantos outros temas sociais são retratados de forma explícita. “Eles não tem medo de expor cenas perturbadoras, e fazem isso com uma técnica incrível, que beira o realismo. Não é a toa que o cinema de terror coreano é um dos mais bem executados do planeta”, revela.
Em Parasita, ainda que a temática central seja a dinâmica de classes, o suspense e a imprevisibilidade são características que atraem desde o trailer.
O resultado das produções fica ainda melhor quando é combinado com uma excelente técnica visual empregada pelos diretores, que são verdadeiros artistas. Além disso, há também uma grande presença de comicidade nas obras, provocando riso mesmo em situações tensas, o que proporciona uma certa leveza ao público.
Investimento cultural
A Coréia do Sul é uma verdadeira indústria cultural. Música, animes, games, e porque não cinema? Para chegar onde chegou o Cinema sul-coreano recebeu uma série de investimentos, seja em leis de fomento, ou em patrocínios de empresas privadas, como Samsung e Hyundai. As políticas públicas que apoiam o setor audiovisual e impulsionam a exportação das obras, são uma das principais causas da sua adesão mundo afora.
Um programa criado ainda na ditadura militar determinava que os filmes nacionais deveriam no mínimo ser exibidos em 146 dias. Esse padrão foi reafirmado em meados de 1985, e mantido até 2006. Após a ditadura foram criadas a academia de cinema, um arquivo e um programa específico de financiamento público para produção e distribuição de filmes pelo país. Atualmente os filmes nacionais correspondem a 57% das obras que são exibidas nas salas sul-coreanas.
Segundo Ernesto, o investimento traz um grande diferencial. “Cinema precisa de dinheiro para acontecer. Quando há investimento alinhado a uma cultura de consumo interna e externa, os resultados são quase certeiros. Não adianta ter qualidade e talento, quando a obra não consegue chegar ao povo”, descreve.
O fato é que o cinema sul-coreano não vence apenas nas grandes premiações, mas também no reconhecimento e investimento que faz em sua indústria audiovisual. Quando se enxerga qualidade e potencial para alcançar vários mundos, o caminho é investir.
E se a ideia é ir além de Parasita e conhecer ainda mais o que o país tem a oferecer nas grandes telas, confira uma lista dos filmes preferidos do Diretor Ernesto Andreghetto. Separa já a pipoca.
– Oldboy/Oldeuboi (2003), de Chan-wook Park
– Casa Vazia/Bin-jip (2004), de Ki-duk Kim
– Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera/Bom yeoreum gaeul gyeoul geurigo bom (2003), de Ki-duk Kim
– O Caçador/Chugyeogja (2008), de Hong-jin Na
– Memórias de um Assassino/Salinui chueok (2007), de Bong Joon Ho
– Mother/Madeo (2009), de Bong Joon Ho
– Okja (2017), de Bong Joon Ho
– O Hospedeiro/Gwoemul (2006), de Bong Joon Ho
– Expresso do Amanhã/Snowpiercer (2013), de Bong Joon Ho (na verdade é uma produção americana, mas a história e a direção são do Bong Joon Ho)
– O Homem de Lugar Nenhum/Ajeossi (2010), de Jeong-beom Lee
– Eu Vi o Diabo/Akmareul boatda (2010), de Jee-woon Kim
– O Rei dos Porcos/Dae Gi Eui Wang (2012), de Sang-ho Yeun
– Invasão Zumbi/Busanhaeng (2016), de Sang-ho Yeon
– A Criada /Ah-ga-ssi (2016), de Chan-wook Park
– Em chamas/Beoning (2018), de Chang-dong Lee
Quer saber mais sobre cinema ou audiovisual? Confira o nosso blog.
Está buscando uma produtora para o seu negócio? Contate-nos!